sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O tempo do suposto amor

Uma pessoa para usar todos os pronomes possessivos, é essa a oferta do amor ultimamente. É uma oferta bem limitada, se o caro leitor me permite ressaltar. Na boca de meio mundo estão todas as razões para estar casado com fulano/a: inteligente, ótimo emprego, gosta de Beatles, boa dentição, perfume importado, paga a conta sempre, é hétero convicto... Ótimo, parabéns, mas não ouvimos falar da capacidade de amar, ouvimos? E sabe por quê? Porque é tão preocupante como uma epidemia ou uma catástrofe natural: nós não sabemos sentir.

Não temos a menor pista de como viver nossos sentimentos na medida do saudável. Não sabemos delimitar nossos desejos, não aprendemos a dividir coisa nenhuma. Vivemos num mundo de egoísmo sentimental, pessoas se divertem com a unilateralidade de sentimentos. Quem nunca ouviu um conhecido dizer ‘É, ele/ela me ligou, vive correndo atrás, mas eu não atender esse telefone nunquinha!’ ou a mais avassaladora de todas: ‘Ah, é bem simpático/a, mas...”? Já ouviu ou já disse isso ao menos uma vez na vida. Se não verbalizou, pensou, garanto.

Vivemos, aliás, o tempo do não-verbalizado. Refiro-me à verdade, porque a mentira, ah, essa sim, anda bem expressa nos depoimentos e twitter de casais perfeitamente felizes, que sorriem e se abraçam pras fotos mas o status ‘namorando’ não é mais que um paliativo pra manter a solidão de duas pessoas supostamente contida. As palavras se tornaram esconderijos para as promessas que não serão cumpridas, fonte pra manter as aparências e alimentar essa vida de hipocrisia.

E o mais incrível em tudo isso é que nos conformamos! Vivemos bem passivamente essa inércia do mesmo... Não ouvimos ninguém reclamar desse sistema de joguinhos e podridão, não se vê ninguém protestando contra esse mundo de permissividade e banalização do amor. Todos estão preocupados com o futuro do planeta, mas o que será do nosso coração consumista se a situação continuar progredindo sem qualquer barreira? Preocupam-se em usar ecobags e canecas, mas nunca ouvi o Jornal Nacional falar da impossibilidade de reciclar ou mesmo reutilizar suas amizades, seus amores, até porque Fátima Bernardes e William Bonner formam um casal perfeito.

Ninguém pensa em mudar sua maneira de amar. Uns até evitam o sentimento, suas reviravoltas, seus sorrisos e lágrimas. Ninguém quer tentar um caminho novo. É amedrontador, é verdade, mas ainda precisamos crer que o tempo de sentimentos mais refinados e mais bem cuidados está por vir. Mas quem disse que seria fácil?

Quando o tempo do amor chegar, quem sabe a gente se encontre por aí e possa falar as verdades que sempre guardamos, colocar em prática as loucuras que o medo nos privou? De relacionamentos entendo pouco, mas algo precisa se tornar uma verdade universal: ‘precisamos uns dos outros para sermos nós mesmos (autor desconhecido)’.

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